quinta-feira, 1 de maio de 2025

Inovação e originalidade

Inovação e originalidade

Deolindo Amorim



Embora tenha incorporado ideias e experiências muito antigas, como a sobrevivência, a vida futura, a comunicação dos espíritos, a reencarnação, a moral cristã, por exemplo, a Doutrina Espírita não é uma colcha de retalhos nem tampouco uma complicação de diversas teorias. O fato de não ser original naqueles pontos, que lhe são muito anteriores, não quer dizer que não constitua uma estrutura própria pela sua natureza. Entretanto, a crítica ao Espiritismo às vezes formula esta objeção: a falta de originalidade, justamente nos pontos básicos. E qual é a doutrina, a escola filosófica, a civilização inteiramente original? O próprio Cristianismo, como se sabe, recebeu enxertos inevitáveis de ideias matrizes, como o Judaísmo, principalmente. O Catolicismo, por sua vez, absorveu material de procedência diversas, até do Paganismo. Em matéria de civilização, os romanos usufruíram muito do pensamento grego, porém, os gregos beberam muito no velho Egito, e assim por diante.

Onde a originalidade absoluta? Vamos ao caso do Espiritismo. Se é verdade que o intercâmbio entre mortos e vivos já existia de todos os tempos, e não há originalidade, realmente, sob este ponto de vista, também é verdade que a Doutrina Espírita (1857) racionalizou a prática mediúnica e deu interpretação nova aos fenômenos chamados de além-túmulo, tendo afastado, ao mesmo tempo, a ideia de milagres, e umas tantas crendices que cercavam e ainda cercam as comunicações mediúnicas entre pessoas desinformadas a respeito do Espiritismo. Ainda mais: a Doutrina estabeleceu uma classificação que nos habilita a situar as categorias de fenômenos e os diversos tipos de médiuns. Nada disto se havia feito antes do Espiritismo. Diferentemente de outras doutrinas espiritualistas, a Doutrina Espirita deu o devido valor à fenomenologia extraterrena, porém extraiu, delas, consequências que jamais haviam sido imaginadas, quer na ordem filosófica, quer na ordem moral. A Doutrina forma, portanto, uma estrutura homogênea, com os seus termos, os seus conceitos, a sua metodologia. E neste aspecto exatamente estão os seus traços de característica própria, inconfundível, embora não seja original nos princípios que lhe servem de base: sobrevivência, a comunicação, o ensino do Cristo, convém frisar novamente.

Conquanto a sua motivação inicial tenha sido o elemento mediúnico, a Doutrina Espírita não se limitou ao trabalho de catalogação, que viria a tomar-se monótona ou rotineira com o tempo, mas formou, na realidade, um corpo íntegro de proposições abrangentes, justamente porque englobam inquirições e deduções filosóficas, com aplicações morais a todas as circunstâncias da vida humana. Como decorrência de seu embasamento, a Doutrina concilia a inteligência e o sentimento, a cultura e a moral, o amor e o conhecimento puro, dentro de uma síntese muito bem equilibrada.

Convém assim acentuar por isso mesmo, naturalmente repetindo o que já disse muitas vezes, que a Doutrina Espírita não veio para ser mais uma denominação de fé, o que significa, por outras palavras: não veio para aceitar tudo ou para concordar com o que já estava dogmatizado. A Doutrina teria de remover alguma coisa, como teria de corrigir muitas ideias e repelir muitas opiniões petrificadas. E, se assim não fosse, não teria razão de ser a sua existência. Com que objetivo, então, teriam os espíritos ditado a Codificação a Allan Kardec? Obviamente, para mudar alguma coisa, embora sem violência nem condenações. Mas não poderia adaptar-se a velhas fórmulas e crenças destituídas de fundamento.

É aqui, finalmente, que se defrontam dois critérios críticos: o externo ou objetivo e o interno ou subjetivo. A crítica externa vê apenas a expressão formal e, por isso, aponta falta de originalidade na Doutrina pelo simples fato de que seu embasamento tenha sido formado de ideia e crenças das mais recuadas na História. A crítica interna, entretanto, vê o pensamento consequente da Doutrina, sua linha de coerência, suas colocações próprias nos contextos fundamentais. A crítica formal ou externa pode apreciar ou julgar uma obra até mesmo pelo lado estético ou pela ordenação das matérias, sem descer ao conteúdo, ao passo que a crítica interna procura o pensamento legítimo, a exatidão dos conceitos, as posições da obra, os fundamentos mais consistentes. Pelo fio da crítica interna, portanto, logo se descobre que a Doutrina Espírita ensina o Evangelho, por exemplo, à luz de uma visão nova em relação às ideias antigas, mostrando o Cristo, não como simples filósofo, porém como um Messias Divino, como nos diz Kardec em A Gênese (capítulo n.°41). Declara a Doutrina: “Longe de negar ou destruir o Evangelho, o Espiritismo vem, ao contrário, confirmar, explicar e desenvolver, pelas novas leis da Natureza, tudo quanto o Cristo disse e fez...” Correspondendo assim às exigências da época em que foi elaborada, a Doutrina elucidou pontos obscuros ou distorcidos, anteriormente interpretados sem os recursos dos conhecimentos modernos.

Nesta ordem de ideias, podemos dizer tranquilamente que a Doutrina Espírita trouxe, de fato, uma contribuição muito oportuna às questões atinentes à Justiça Divina, tanto quanto ao destino humano e à vida futura, com luzes novas, não há dúvida. Até mesmo no que se refere à reencarnação, crença velhíssima no Oriente, o pensamento espírita introduziu esclarecimentos que tornam esse princípio mais compatível com a justiça suprema e o próprio bom senso. Tanto assim que rejeitou a ideia da volta do Espírito em corpo de animal (metempsicose), noção admitida, não de um modo geral, mas em determinados círculos. A Doutrina, em suma, não subscreveu, ao pé da letra, tudo quanto já existia. E ainda nos põe diante de argumentos pelos quais podemos conciliar logicamente a reencarnação com o livre-arbítrio e o determinismo no processo evolutivo do ser humano.

À crítica puramente externa ou formal — repetimos de propósito — não vê os aspectos intrínsecos da Doutrina e, por isso, não descobre os pontos em que ela enriqueceu a compreensão do problema religioso e projetou as suas luzes na interpretação filosófica dos fenômenos que já existiam. A esta altura, enfim, o que interessa considerar não é a originalidade dos elementos componentes, mas o corpo da Doutrina, em si, com a sua característica própria.

Deolindo Amorim do livro:
Uma Nova Era 
de Deolindo Amorim e Celso Martins


Curta nossa página no Facebook:
https://www.facebook.com/regeneracaodobem/

Declaração de Origem

- As mensagens, textos, fotos e vídeos estão todos disponíveis na internet.
- As postagens dão indicação de origem e autoria. 
- As imagens contidas no site são apenas ilustrativas e não fazem parte das mensagens e dos livros. 
- As frases de personalidades incluídas em alguns textos não fazem parte das publicações, são apenas ilustrativas e incluídas por fazer parte do contexto da mensagem.
- As palavras mais difíceis ou nomes em cor azul em meio ao texto, quando acessados, abrem janela com o seu significado ou breve biografia da pessoa.
- Toda atividade do blog é gratuita e sem fins lucrativos. 
- Se você gostou da mensagem e tem possibilidade, adquira o livro ou presenteie alguém, muitas obras beneficentes são mantidas com estes livros.

- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles,  a razão e a universalidade.

- Cisão para estudo de acordo com o Art. 46 da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98 LDA - Lei nº 9.610 de 19 de Fevereiro de 1998.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário, sugestão, etc...