Mudanças
Joanna de Ângelis
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
Estude sem propagandas atrapalhando o que você quer ler! Dai de graça o que de graça recebestes! "- Fora da caridade não há salvação." Allan Kardec
18. Os Espíritos sofredores reclamam preces e estas lhes são proveitosas, porque, verificando que há quem neles pense, menos abandonados se sentem, menos infelizes.
Entretanto, a prece tem sobre eles ação mais direta: reanima-os, incute-lhes o desejo de se elevarem pelo arrependimento e pela reparação e, possivelmente, desvia-lhes do mal o pensamento. É nesse sentido que lhes pode não só aliviar, como abreviar os sofrimentos.
A passagem seguinte, tirada de Santo Atanásio, patriarca de Alexandria, um dos pais da Igreja Grega, parece ter sido escrita sob a inspiração das ideias espíritas de hoje.
“A alma não morre, mas o corpo morre quando ela dele se afasta. A alma é para si mesma seu próprio motor; o movimento da alma é a vida. Mesmo quando prisioneira do corpo e como que a ele ligada, ela não se limita às suas estreitas proporções e aí não se encerra, mas, muitas vezes, quando o corpo jaz imóvel e como que inanimado, ela fica desperta por sua própria virtude; e, saindo da matéria, posto que a ela ainda ligada, ela concebe e contempla existências além do globo terrestre; ela vê os santos desprendidos do envoltório dos corpos; ela vê os anjos e a eles sobe, na liberdade de sua pura inocência.
“Inteiramente separada do corpo, e quando a Deus aprouver tirar-lhe a cadeia que ele lhe impõe, não terá ela, eu vos pergunto, uma visão muito mais clara de sua natureza imortal? Se hoje mesmo, e nos entraves da carne, ela já vive uma vida completamente exterior, viverá muito mais após a morte do corpo, graças a Deus que, por seu Verbo, a fez assim. Ela compreende, ela abarca em si as ideias de eternidade, as ideias de infinito, porque ela é imortal. Da mesma forma que o corpo, que é mortal, só percebe o material e perecível, a alma, que vê e medita sobre as coisas imortais, é necessariamente imortal e viverá sempre, porque os pensamentos e as imagens de imortalidade jamais a deixam e nela são como um foco vivo, que assegura e alimenta a sua imortalidade.”
(Sanct. Athan. Oper., tomo I, pág. 32. ─ VILLEMAIN, Quadro da eloquência cristã no século IV).
Com efeito, não está aí um quadro exato da radiação exterior da alma durante a vida corporal, e de sua emancipação no sono, no êxtase, no sonambulismo e na catalepsia? O Espiritismo diz exatamente a mesma coisa, e o prova pela experiência.
Com as ideias esparsas contidas na Bíblia, nos Evangelhos, nos Apóstolos e nos Pais da Igreja, sem falar dos escritores profanos, pode-se constituir toda a Doutrina Espírita moderna.
Os comentários feitos a esses escritos, geralmente o foram de um ponto de vista exclusivo e com ideias preconcebidas, e muitos neles não viram senão o que queriam ver, ou lhes faltava a chave necessária para ver outra coisa. Hoje, no entanto, o Espiritismo é a chave que dá o verdadeiro sentido das passagens mal compreendidas.
Até o presente, esses fragmentos são recolhidos parcialmente, mas dia virá em que homens de paciência e de saber, e cuja autoridade não poderá ser ignorada, farão desse estudo o objeto de um trabalho especial e completo que projetará luz sobre todas essas questões, e ante a evidência claramente demonstrada, será forçoso render-se.
Acreditamos poder dizer que esse trabalho considerável será obra de membros eminentes da Igreja, que receberão esta missão, porque compreenderão que a religião deve ser progressiva como a Humanidade, sob pena de ser superada, porque há ideias retrógradas em religião como em política. Em tal caso, não avançar é recuar.
Os incrédulos surgem precisamente porque a religião colocou-se fora do movimento científico e progressivo. Ela faz mais, porque declara que esse movimento é obra do demônio, e sempre o combateu. Disso resultou que a Ciência, repelida pela religião, por sua vez repeliu a religião. Daí resulta um antagonismo que não cessará senão quando a religião compreender que não só deve marchar com o progresso, mas ser um elemento do progresso. Todo mundo acreditará em Deus quando ela não o apresentar em contradição com as leis da Natureza, que são obra sua.
| Jesus e o paralítico na piscina de Betsaida |
As convulsões produzidas despertariam os mais controvertidos sentimentos.
Os galileus eram considerados desprezíveis na própria pátria e os que se originavam da Nazaré pequenina, menos respeito mereciam.
As paixões sectárias haviam dividido aquele povo reduzido em facções que se detestavam e, por isso, Israel sofrera demorados e cruentos jugos através dos tempos, que lhe depauperaram a alma, não a aniquilando, graças ao fervor religioso e ao ascético monoteísmo que lhe impunha sacrifícios e sofrimentos acerbos.
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Jesus já estivera por mais de uma vez em Jerusalém, a cidade áspera dos profetas, desde que iniciara o messianato.
Nos intervalos da ação, retornara à Galileia gentil, passando pela Samaria e divulgando as notícias do “Reino de Deus”.
Na oportunidade, o Seu verbo ressoara na ação prodigiosa das curas, que comoviam e convocavam seguidores para o Seu rebanho de pastor das almas.
Há pouco, liberara o jovem filho de uma autoridade que, à morte, produzia terrível sofrimento na família. Nem mesmo o viu, sequer. À sua ordem, a distância, o rapaz sarou do mal que o consumia, deixando o pai e todos os seus, afervorados e reconhecidos.
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A cidade febricitante regurgitava, naquela oportunidade, com a presença de muitos peregrinos.
As festas anuais atraíram visitantes de toda parte, o que ocasionava balbúrdia, agitação e fervor religioso.
Adentrando-se pela porta das ovelhas, parou, um pouco, junto à piscina da Bezatha, ou Betsaida, famosa pelos seus cinco pórticos, onde os enfermos, paralíticos e infelizes estagiavam, aguardando milagres e socorros...
Uma velha tradição informava com viso de verdade que, vez por outra, um anjo lhe movimentava as águas, o que propiciava a cura de todas as mazelas orgânicas.
Certamente, o movimento no seio se originava dos minadouros que a vitalizavam com o fluxo da correnteza.
Um paralítico, no entanto, que se lamentava sobre um catre de vergonha e desespero, anunciava a todos que, apesar de ali vir diariamente, fazia trinta e oito anos, nunca se pudera beneficiar do favor divino, porque, tão logo as águas se moviam alguém se lhe arrojava antes, por não ter quem o ajudasse a mergulhar naquelas correntes curativas...
Jesus compadeceu-se e, tomado de imenso amor, ordenou lhe:
– Ergue-te, toma da tua cama e vai!
Fascinado, comovido por aquele Homem de olhar penetrante e dulçoroso, o paralítico moveu-se, pôs-se de pé, e, exultante, tomou do leito, logo saindo a clamar hosanas.
Quantos lhe perguntavam quem era aquele que o libertara, não o sabia dizer.
Passeando a felicidade por toda parte, foi ao Templo para que todos o vissem, quando ali reencontrou o Benfeitor e o apontou, sorridente, aos que o inquiriam sobre o acontecimento inusitado.
O Rabi, que conhecia as causas anteriores das aflições e a necessidade delas, tanto quanto o perigo da saúde, que mal aproveitada é geratriz de futuros males, informou-o, enérgico:
– “Tem cuidado e não peques, para que te não aconteça algo pior.”
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A inveja farisaica, escrava da ortodoxia e do formalismo, porque soubesse que a cura se dera num sábado, numa violação ao artigo legal que prescrevia o repouso nesse dia, não podendo negar o fato em evidência, arremeteu contra aquele que realizava o que eles, os tecelões da intriga, não conseguiam, indagando, hipócritas:
– “Por que curas no sábado, todo ele dedicado ao repouso?”
Sem preocupar-se com as suas mesquinharias, o Senhor redarguiu-lhes:
– “O Pai trabalha continuamente e eu também trabalho”–
como a dizer que a preservação das Leis que regem o Cosmo e a vida, exige, também, trabalho.
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O escândalo que as Suas ações produziam acumularia ódios que se voltariam contra Ele...
Na impossibilidade de O superarem, perseguiam-nO, arranjando motivos para desmerecê-lO.
A mesquinhez compete contra a grandeza, tentando solapar-lhe as bases.
Em todos os tempos, os pigmeus em espírito agredirão os gigantes do bem que não se deterão a responder-lhes ou mesmo a defender-se.
A inveja detestará sempre a honra e a beleza, disseminando calúnias.
O ódio seguirá as pegadas da ação dignificante, ateando os fogos da destruição para alcançá-la.
A hipocrisia engendrará tramas contra a lealdade, por lhe não suportar os testemunhos superiores.
(...) No entanto, acima de todas as vicissitudes o bem triunfará sobre o mal, assim como a luz diluirá a treva sem alarde...
As coisas, os dias, estão na escola do mundo para que o homem os utilize no empenho de crescimento para Deus e não o homem que esteja para submeter-se às suas conjunturas.
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Sempre será sábado para os ociosos e negligentes, mas, para os obreiros da verdade, cada hora de todo dia é sempre bênção para a renovação e o trabalho libertador.
Iniciada a tarefa evangélica, desatavam-se as cadeias do futuro e o pleno amor instalava, na Terra, o reino da felicidade, que jamais se acabará...
Nitroglicerina e matéria silicosa constituem a dinamite, capaz de efetuar depredações e arrasamentos, mas, se o homem lhe controla as explosões, nela encontra valioso auxiliar de serviço.
Ferro e carbono, habilmente conjugados, compõem o aço comum que tanto satisfaz na prática belicista, como atende na base da indústria ou na garantia da construção.
Lama e detrito criam o charco; no entanto, se alguém lhe aplica drenagem conveniente, ei-lo que se converte em celeiro de pão.
A laranjeira rústica estende pomos azedos, contudo, se recebe enxertia adequada, esparze larga cópia de frutos suculentos.
Assim também o destino.
Culpa e resgate somam dificuldade e dor, mas se empregamos fé viva em nossa capacidade de realizar o melhor, aceitando o sofrimento por recurso de correção e aprimoramento, ainda mesmo na sombra do extremo infortúnio, podemos traçar o caminho da paz e acender a chama da elevação.
“Os guardas, então, voltaram aos chefes dos sacerdotes e aos fariseus e estes lhes perguntaram: Por que não o trouxestes? Responderam os guardas: Jamais um homem falou assim!” (João 7:45 e 46)
Ao estudarmos a mensagem libertadora nos domínios doutrinários do Espiritismo, encontramos em O Livro dos Médiuns a seguinte orientação de Kardec:
“Os Espíritos superiores se exprimem de maneira simples, sem prolixidade; seu estilo é conciso, sem excluir a poesia das ideias e de expressões, claro, inteligível para todos, e não exige esforço para ser compreendido; têm a arte de dizer muitas coisas com poucas palavras, porque cada palavra tem sua importância”. (O Livro dos Médiuns – 2ª parte, cap. XXIV item 267)
Oradores e escritores espiritualmente saudáveis mantêm relacionamentos sociais harmônicos; pois ninguém desenvolve um intercâmbio benéfico com os semelhantes sem simplicidade e sem uma certa capacidade de expressão. A linguagem extensa e verbosa muitas vezes esconde a pretensão de querer passar por profunda e extraordinária, mas não atrai nem cria vínculos de aprendizagem.
A manifestação escrita ou falada é uma arte. Faz com que as pessoas compreendam sem trabalho ou esforço, antes com facilidade e prazer, o que se leu ou se escutou. Ao mesmo tempo, leva-as a desenvolver crescente interesse pela reflexão do conteúdo em pauta.
Há exibicionismo no vestir, no falar, no escrever, no possuir, em se abraçar certas ideologias e, até mesmo, em realizar hipotéticas tarefas ditas “cristãs”.
Muitas vezes não percebemos o disfarce de certas pessoas vestidas humildemente para se exibir, através de uma modéstia estudada, nos meios de comunicação. Em outras circunstâncias, não entendemos a autenticidade de criaturas que se apresentam com elegância e com joias valiosas divulgando o Evangelho de Jesus.
Diz Kardec que os pseudossábios usam uma linguagem presunçosa, procuram demonstrar um enorme conhecimento e nunca confessam sua ignorância sobre aquilo que desconhecem. Se não são escutados com admiração e elogios, retiram-se imediatamente.
Quando se expressam, são exclusivos e absolutos em suas opiniões, acreditando que só eles têm o privilégio de reter a verdade absoluta. Procuram chamar a atenção das pessoas ou dar exagerada importância àqueles de quem desejam retirar benefícios pessoais ou usufruir privilégios.
Há palavras grafadas ou verbalizadas que nos levam inicialmente a um deslumbramento, para depois percebermos sua inutilidade. Assim também ocorre com certas preleções: cheias de frases redundantes, porém necessitadas de ideias edificantes ou instrutivas.
O verbo iluminado do Cristo trouxe à Terra, sem alarde, a sincronia da sabedoria e do amor como metas preciosas a ser atingidas para que alcançássemos o reino de Deus.
O poder de síntese da mensagem das Bem-Aventuranças de Jesus gravou para sempre no coração dos seus discípulos uma declaração iluminada que indica o caminho para os Céus, numa eloquência jamais vista pela humanidade.
Discursos retumbantes somados a magnífica literatura muitas vezes não ecoam a simplicidade das palavras de vida eterna. Em nada nos acrescentam, não nos desenvolvem o raciocínio nem nos ampliam o sentimento; somente nos distraem a mente por alguns momentos.
Palestras úteis nos levam a compreender o lugar onde estamos, perceber para onde caminhamos e por quê. Elas nos proporcionam uma perspectiva geral de tudo aquilo que nos dá um sentido existencial e um mapa mental que nos guiará ao significado de nossa tarefa na vida.
“... Responderam os guardas: Jamais um homem falou assim!” A forma de expressão dos Espíritos iluminados é inconfundível. “... seu estilo é conciso, sem excluir a poesia das ideias e de expressões (...) têm a arte de dizer muitas coisas com poucas palavras... O que poderia melhor definir o Sermão do Monte?
Elevemos a fronte para o alto e guardemos conosco as palavras do Mestre. Nelas está contido o programa de elevação divina feito para os aprendizes sinceros do Evangelho.
A medida que o ser humano foi superando as dominadoras necessidades básica da vida, no rumo das emoções do conhecimento, deu início ao esforço para a superação do sofrimento, para as comodidades existenciais, a conquista do bem-estar, a autorrealização no que denominamos como felicidade.
Ainda hoje, no entanto, são várias as facetas através das quais a felicidade se apresenta.
As diversas escolas de pensamento filosófico estabelecem regras e recomendações tanto no Oriente como no Ocidente, de acordo com o nível de evolução mental e emocional dos seus coevos.
Na Grécia, por exemplo, os pré-socráticos estabeleceram os fundamentos do que lhes parecia mais compatível com as necessidades vigentes, surgindo uma que outra vez, ou concomitantemente, filósofos que adotavam tal ou qual conduta como a mais eficaz para libertar o ser das aflições, auxiliá-lo no seu modo de ser feliz.
Predominaram por muito tempo, e ainda encontramos em pauta, comportamentos hedonistas, pessimistas, estoicos, sofistas com predominância daqueles de natureza ética, fundamentados no autoconhecimento.
Materialistas e espiritualistas travaram e prosseguem em longa batalha cultural e sociológica, a fim de manterem os seus fundamentos para que arrebanhem adeptos capazes de entregar-se-lhes em regime de totalidade.
Com o advento do Cristianismo, nos primeiros séculos, Espíritos de alta estirpe evolutiva estabeleceram regras severas a respeito do mundo e dos seus males, em razão dos conceitos existenciais em torno da vida na Terra. Em consequência, optaram por fugir dos seus perigos e paixões, buscando o insula- mento, em tentativas de submeterem a matéria, maltratando-a ao talante da vontade.
Desde Antão, o extraordinário santo do deserto, que viveu Desde Antão, o extraordinário santo do deserto, que viveu mais de noventa anos em cavernas diferentes, ao terno Francisco de Assis, esse era o modo de ser dos veneráveis apóstolos do amor e da renúncia, na luta quase intérmina para a conquista do Reino dos Céus.
A evolução do pensamento demonstrou que não é a carne a responsável pelos danos que aturdem o Espírito e o encarceram no erro, no crime, nas ideologias perversas, mas é o ser em si mesmo, que se havendo permitido deslizes sob a ação nefanda do egoísmo, renasce assinalado pelas mazelas que o afligem.
A necessidade da reabilitação faz-se inevitável pelo sofrimento, pelas disciplinas impostas em favor da reeducação, mediante a construção do bem que dignifica e ergue a vítima, assim como ilumina o equivocado.
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O modo mais eficaz para ser-se feliz pode reduzir-se às duas solicitações que Jesus expôs durante a Sua jornada terrestre, e ainda permanecem desatendidas: Amar ao próximo como a si mesmo e não lhe desejar o que não queira para si próprio.
No amor encontra-se o jeito de cada qual ser realmente feliz.
A felicidade independe de valores externos, embora alguns contribuam para a harmonia do ser e o estabelecimento de conforto, de benefícios e de paz.
É também através de recursos especiais que é possível promover o indivíduo, auxiliar a sociedade a crescer, multiplicar as oficinas de trabalho, dar garantia de dignidade para a sobrevivência no corpo, proporcionar leis justas e diluir as arbitrariedades muito do agrado das humanas paixões dissolventes.
Todavia, é a consciência ilibada em decorrência do dever retamente cumprido que a proporciona sem qualquer restrição.
O Espiritismo, nesse sentido, faculta o encontro com a consciência, mediante o autoencontro, auxiliando-o no entendimento das leis que regem a existência e que devem ser atendidas com o equilíbrio desejável.
A certeza da imortalidade da alma confere inefável alegria, por proporcionar a continuidade dos esforços íntimos para a completude de todas as aspirações.
O ser humano dignifica-se, sabendo que os seus labores e o seu modo de ser condigno não se diluem no fenômeno destrutivo da transformação orgânica pela disjunção molecular.
Desse modo, nunca meças esforço para superar-te cada dia, aspirando ao melhor, essa melhor parte a que se refere Jesus no diálogo com Maria e Marta na residência de seu irmão Lázaro, quando a primeira mantém-se em contemplação e aprendizagem das Suas lições, e a outra aturdida com as pequenezes do exterior, que são de significado secundário.
É necessário eleger-se a ação do bem, iniciando-se pela transformação moral para melhor, autenticidade de realizações edificantes e permanente espírito de abnegação.
Não faltarão aqueles que te verão com estranheza, porque estão fascinados com as miragens do prazer transitório e do mundo físico, a cada instante em contínua transformação.
Nunca te envergonhes, portanto, do teu modo de ser feliz, no sublime serviço do amor a Deus acima de todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo.
Não há alternativa.
Afinal, somente o Amor tem a duração eterna, porque procede do Criador, cuja Obra é a mais extraordinária manifestação desse Amor.
Avança com a tua forma especial de ser e de servir, e não te constranjam as atitudes agressivas e atormentadas daqueles que se encontram enganados.
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O modo de ser de Jesus foi amar em todas as circunstâncias, deixando as pegadas luminosas que, desde há dois mil anos, constituem o roteiro de segurança para a Humanidade, em grande parte desatenta aos Seus ensinamentos, buscando equivocadamente soluções externas para as necessidades internas.
Seja, pois, o teu modo de ser feliz aquele que o Amigo Divino te ofereceu como modelar, e nunca te aflijas, porque Ele estará contigo.
Dizes trazer o deserto no coração; entretanto, pensa nos outros.
Muitos pisam teus rastros, procurando-te as mãos no grande vazio...
Para um pouco e perceberá a presença nas sombras da retaguarda.
Enquanto gritas a própria solidão, compreenderás que a voz deles está morrendo na garganta, através de longos gemidos.
Volta-te e vê.
Compara os teus braços robustos com os ossos descarnados que ainda lhe servem de suporte às mãos tristes em que os dedos mirrados são espinhos de dor. Enxuga o teu pranto e observa os olhos fatigados que te contemplam... Falam-te a história de esperanças e sonhos que o tempo soterrou na areia da frustração. Referem-se ao frio cortante do lar perdido e à agonia da ramagem nas trevas...
Para e compadece-te.
Deixa que respirem, ainda mesmo por um momento só, no calor de teu hálito.
Quem poderá medir a extensão da grandeza de uma simples semente, caída na terra que o arado martirizou?
A beleza de um minuto nos ensina, muita vez, a povoar de alegria e de luz a existência inteira.
Diz antiga lenda que uma gota de chuva caiu sobre o oceano que a tormenta encapelara e, aflita, perguntou:
– "Deus de Bondade, que farei, sozinha, neste abismo estarrecedor?"
O Pai não lhe respondeu, mas, tempos depois, a gota singela era retirada do mar, convertida numa pérola para adornar a coroa de um rei.
Dá também algo de ti aos que bracejam no torvelinho do sofrimento, e, mesmo que possas ofertar apenas um pingo de amor aos que padecem, tua dádiva será filtrada pelas correntes da angústia humana e subirá, cristalina e luminescente, na direção dos céus, para enfeitar a glória de Deus.
Em referência ao Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. XIII / Item 13