Médiuns e Jesus
Vianna de Carvalho
A mediunidade é, em si mesma, uma faculdade que possibilita o intercâmbio consciente ou não com os espíritos, quer estes se encontrem domiciliados no corpo físico ou fora dele, além da morte orgânica.
Neutra, do ponto de vista filosófico e religioso, tem sido utilizada através da história para os fins que lhe destinam os grupos sociais nos quais se apresenta.
Inata à natureza humana, contribui para demonstrar com segurança a transitoriedade da organização biológica, ao mesmo tempo em que favorece a indiscutível realidade da vida imortal.
A sua utilização assinala-a com bênçãos ou desalinhos, de acordo com a conduta do medianeiro, bem como daqueles entre os quais este se movimenta.
Expressa-se, automaticamente, despertando curiosidade, chamando a atenção, impondo, no entanto, um comportamento saudável, a fim de oferecer resultados proveitosos.
Descuidada, torna-se veículo de sofrimento; utilizada em espetáculos, concorre para o desequilíbrio e o ridículo; vendida, tomba nos perigosos meandros da mentira a serviço da irresponsabilidade; posta em favor do bem, converte-se em portal de luz, abrindo espaços libertadores para os homens e os espíritos.
De acordo com a conduta moral do médium, atrai entidades equivalentes que a manipulam, dando curso ao caráter que possuem, tornando-a fator de alegria ou de tormento.
Essencialmente, deve destinar-se à obra de consolação das criaturas, demonstrando-lhes a sobrevivência ao túmulo e reconfortando, também, aqueles que o atravessaram com desaviso, tormento e loucura.
Os desvios morais entorpecem-na; as paixões primitivas embrutecem-na; as ambições vulgares conspurcam-na; os interesses egoístas ensorberbecem-na, condenando-a a distonias físicas e psíquicas irrecuperáveis.
Não pode ser aplicada como meio de vida, porém como instrumento de relevantes valores para a vida.
Nos últimos tempos, poderemos identificá-la em situações diferentes, ora constrangedoras, ora grandiosas, conforme a finalidade a que a destinaram os seus portadores.
Daniel D. Home, passeando-a pelas cortes europeias e deixando-se examinar por pesquisadores honrados, fez-se "o príncipe dos médiuns" e, vitimado pela vaidade, tornou-se objeto de escárnio dos seus opositores, quanto de bajulação insensata dos seus admiradores. Não obstante, após a desencarnação, não deixou mais que os resultados de estudos, controvérsias, sem um lastro de consolação de vidas carentes, que se estertoravam ao seu lado, embora jamais surpreendido em fraude.
Eva Carrière, especialmente estudada pelo emérito Professor Richet, não conseguiu convencer substancialmente o insistente e cuidadoso investigador. Analisada por outros exigentes pesquisadores, não teve o ensejo de erguer vidas do caos através das possibilidades mediúnicas que lhe eram inerentes.
Os irmãos Davenport, apresentando-se em espetáculos públicos, deixaram marcas perturbadoras das suas exibições, facultando críticas ácidas e celeumas desagradáveis.
Antes deles, as irmãs Fox, que se notabilizaram graças aos fenômenos em Hydesville, aturdidas nos matrimônios infelizes, apresentaram declarações de fraude, e, arrependidas, buscando reparar a leviandade, caíram em descrédito geral.
Esses e muitos outros atenderam ao serviço da mediunidade vã, conforme os padrões do mundo, esquecidos das suas finalidades nobres.
A excelente senhora Eleonora Piper, cuidadosa e interessada na verdade, converteu inúmeras personalidades de dois continentes, contribuindo dignamente para estabelecer fundamentos na fé imortalista.
Edgar Cayce, entregando-se confiante aos seus guias espirituais e dedicando-se ao atendimento dos males do corpo, da mente e da alma, confirmou a imortalidade do ser e conduziu à saúde, à esperança e à paz milhares de pessoas antes desesperadas.
A senhora d’Espérance, igualmente fiel ao mandato mediúnico, ofereceu provas extraordinárias da sobrevivência, sensibilizando todos quantos participaram das experiências a que foi submetida.
A relação daqueles que se fizeram missionários do bem em favor do seu próximo é longa, entregando-se à atividade mediúnica sob rígido controle moral e cristão.
Iluminando a consciência do médium e aplainando-lhe o caráter, a doutrina espírita propõe o exercício da faculdade em favor de metas relevantes, nas quais o sacrifício, a abnegação e a caridade do servidor se tomam indispensáveis para o êxito do empreendimento.
Esta conduta é a da mediunidade com Jesus - Protótipo do intercâmbio superior com Deus em favor da humanidade - através de cujo exercício adquire as características essenciais para o seu superior desiderato, auxiliando os homens, encarnados ou desencarnados, a trilharem pela senda renovadora.
Considerando-se a multidão de inditosos a pulularem na erraticidade inferior, o médium consciente e responsável deve brindar-se à tarefa da enfermagem espiritual, em favor do seu próximo, contribuindo para que este seja esclarecido e guiado ao reequilíbrio, dando curso ao impositivo da caridade, desta forma evitando-se as quedas desastrosas no abismo em que tombam os insensatos, os presunçosos, os irrequietos e invigilantes que, em se utilizando da mediunidade em favor da ambição, recebem o efeito da própria escolha.
- Para seguirmos corretamente o espiritismo, devemos submeter todas as mensagens mediúnicas ao crivo duplo de Kardec, sendo eles, a razão e a universalidade.
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