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domingo, 16 de julho de 2017

Oração diante do tempo

Oração diante do tempo

Irmão X.




Senhor Jesus!

Diante do calendário que se renova, deixa que nos ajoelhemos para implorar-te compaixão.

Tu que eras antes que fôssemos, que nos tutelastes, em nome do Criador, na noite insondável das origens, não desvies de nós teu olhar, para que não venhamos a perder o adubo do sangue e das lágrimas, oriundos das civilizações que morreram sob o guante da violência!...

Determinaste que o Tempo, à feição de ministro silencioso de tua justiça, nos seguisse todos os passos...

E, com os séculos, carregamos o pedregulho da ilusão, dele extraindo o ouro da experiência.

Do berço para o túmulo e do túmulo para o berço, temos sido senhores e escravos, ricos e pobres, fidalgos e plebeus.

Entretanto, em todas as posições, temos vivido em fuga constante da verdade, à caça de triunfo e dominação para o nosso velho egoísmo.

Na governança, nutríamos a vaidade e a miséria.

Na subalternidade, alentávamos o desespero e a insubmissão.

Na fortuna, éramos orgulhosos e inúteis.

Na carência, vivíamos intemperantes e despeitados.

Administrando, alongávamos o crime.

Obedecendo, atendíamos à vingança.

Resistíamos a todos os teus apelos, em tenebrosos labirintos de opressão e delinquência, quando vieste ensinar-nos o caminho libertador.

Não te limitaste a crer na glória do Pai Celeste.
Estendeste-Lhe a incomparável bondade.

Não te circunscreveste à fé que renova.
Abraçaste o amor que redime.

Não te detiveste entre os eleitos da virtude.
Comungaste o ambiente das vítimas do mal, para reconduzi-las ao bem.

Não te ilhaste na oração pura e simples.
Ofertaste mãos amigas às necessidades alheias.

Não te isolaste, junto à dignidade venerável de Salomé, a venturosa mãe dos filhos de Zebedeu.
Acolheste a Madalena, possuída de sete gênios sombrios.

Não consideraste tão-somente a Bartimeu, o mendigo cego.
Consagraste generosa atenção a Zaqueu, o rico necessitado.

Não apenas aconselhaste a fraternidade aos semelhantes.
Praticaste-a com devotamento e carinho, da intimidade do lar ao sol meridiano da praça pública.

Não pregaste a doutrina do perdão e da renúncia exclusivamente para os outros.
Aceitaste a cruz do escárnio e da morte, com abnegação e humildade, a fim de que aprendêssemos a procurar contigo a divina ressurreição...

Entretanto, ainda hoje, decorridos quase vinte séculos sobre o teu sacrifício, não temos senão lágrimas de remorso e arrependimento para fecundar o Saara de nossos corações...

Em teu nome, discípulos infiéis que temos sido, espalhamos nuvens de discórdia e crueldade nos horizontes de toda a Terra! É por isso que o Tempo nos encontra hoje tão pobres e desventurados como ontem, por desleais ao teu Evangelho de Redenção.

Não nos deixeis, contudo, órfãos de tua bênção...

No oceano encapelado das provações que merecemos, a tempestade ruge em pavorosos açoites... Nosso mundo, Senhor, é uma embarcação que estala aos golpes rijos do vento.

Entre as convulsões da procela que nos arrasta e o abismo que nos espreita, clamamos por teu socorro! E confiamos em que te levantarás luminoso e imaculado sobre a onda móvel e traiçoeira, aplacando a fúria dos elementos e exclamando para nós, como outrora disseste aos discípulos aterrados: 

– “Homens de pouca fé, porque duvidastes?”.






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